quinta-feira, 21 de março de 2013

Há muito que fazer…

Um ermitão, uma destas pessoas que se refugiam na solidão do deserto do bosque ou das montanhas para dedicar-se somente à oração e penitência, muitas vezes comentava que tinha muito o que fazer.

Perguntaram-lhe como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho.

Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e conter um leão.

As duas águias ferem e destroçam com suas garras. Tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir. São minhas mãos.

Os dois coelhos querem ir onde lhes agrada, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades. Tenho que ensinar-lhes a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável. São meus pés.

O mais difícil é vigiar a serpente, apesar dela estar presa numa jaula de 32 barras. Está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula. Se não a vigio de perto, causa danos. É minha língua.

O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia. É meu corpo.

Finalmente, preciso domar o leão. Quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso. É meu coração.



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